Em uma questão adaptada, havia a seguinte sentença: “Como se fosse um direito natural, reserva-se o poder aos homens em todos os níveis, ao mesmo tempo em que as mulheres sofrem sob estereótipos e idealizações também naturalizados.“
Com o sentido temporal, a locução conjuntiva “ao mesmo tempo que” – equivalente a “enquanto” – não deve fazer o uso de “em”.
Na obra Domingo à Tarde, de Fernando Namora, vê-se:
“O peito subia e descia como um harmônio, ao mesmo tempo que dele escapava um som de goela estrangulada.”
Em Quincas Borba, Machado de Assis assim redige:
“Traz a idéia do ímpeto, do sangue, da disparada, ao mesmo tempo que a da serenidade com que torna ao caminho reto, e por fim à cavalariça.”
A Moderna Gramática Brasileira, de Evanildo Bechara, reúne as principais conjunções e locuções temporais. Nestas exemplificações a seguir, verifica-se a preposição “em” igualmente ausente:
a) Tempo anterior: antes que, primeiro que;
b) Tempo posterior: depois que;
c) Tempo posterior imediato: logo que, assim que, desde que;
d) Tempo frequentativo (repetido): todas as vezes que, sempre que;
e) Tempo terminal: até que.
Há algumas semanas, diante de um tema semelhante, tive aqui o prazer de citar Domingos Paschoal Cegalla, sobre “a primeira vez que”:
“Nesta expressão de sentido temporal, a palavra ‘que’ é geralmente considerada conjunção. Não se deve, por isso, antepor-lhe a preposição ‘em’.”
Mais uma vez, a frase inicial deste texto deveria ser: “Como se fosse um direito natural, reserva-se o poder aos homens em todos os níveis, ao mesmo tempo que as mulheres sofrem sob estereótipos e idealizações também naturalizados.“
Diogo Arrais
@diogoarrais
Professor de Língua Portuguesa – CPJUR
Autor Gramatical pela Editora Saraiva
REGISTRO AUT. 125985318082017/ORZIL
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