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Brasília, April 19, 2024 12:38 PM

Com mais de R$ 3 milhões captados via Lei de Incentivo do Governo Federal, projeto em Tocantins forma craques da bola e da escola

Publicado em: 29/01/2021 21:01 | Atualizado em: 29/01/2021 21:01
O Inclusão Social Através do Futebol beneficiou quase quatro mil crianças e adolescentes em dez anos. Ação alia esporte e educação e é mantida com recursos obtidos junto à iniciativa privada
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Atuais integrantes do projeto reunidos com Ygor, ex-aluno do projeto e atualmente nas categorias de base do Vitória (BA). Foto: Divulgação/Inclusão Social Através do Futebol

Meiões, chuteiras, calções, camisas, bolas, traves, redes e cones para exercícios. Em cinco cidades do Tocantins, a composição típica para a prática de futebol passou a rimar com lápis, borrachas, apontadores, tesoura, cola, cadernos e desempenho escolar. O cardápio conjunto é oferecido duas vezes por semana, duas horas por dia, a cerca de 500 crianças e adolescentes de sete a 17 anos matriculadas na rede pública de ensino em Palmas, Miracema, Lajeado, Peixe e Paranã.

Toda terça e quinta eles já deixam o material pronto, o esportivo e o de estudo. Eles sabem que para ir a campo precisam fazer os deveres e as aulas de reforço. Os dois evoluíram muito nos dois campos”

Adriano Marques da Silva, pai de dois alunos que frequentam o projeto

Batizado de Inclusão Social Através do Futebol, o projeto é executado pela Associação Atlética Atenas, que capta recursos via Lei de Incentivo ao Esporte, do Governo Federal, há dez anos. Ao longo dessa trajetória, são quase quatro mil contemplados e mais de R$ 3 milhões captados com o Grupo EDP, empresa ligada ao setor energético, para a execução das atividades. A etapa atual conta com R$ 407 mil autorizados para captação.

Os irmãos Matheus e Rodrigo Marques da Silva Nascimento, de Palmas, integram o time. Assíduos, os atacantes lapidam as habilidades esportivas e o reforço escolar desde que tinham sete e oito anos. Hoje, já com 12 e 13, evoluíram tanto nos dribles e finalizações quanto na matemática e no português.

“Toda terça e quinta eles já deixam o material pronto, o esportivo e o de estudo. Eles sabem que para ir a campo precisam fazer os deveres e as aulas de reforço. Os dois evoluíram muito nos dois campos”, afirma o motorista e profissional da área de eventos Adriano Marques da Silva, pai da dupla. Matheus, inclusive, ganhou uma bolsa para aprimorar as técnicas na categoria de base de uma sucursal tocantinense da escolinha do Flamengo (RJ).

“Não é o nosso objetivo principal, mas temos tido resultados expressivos também no alto rendimento. Alguns dos meninos que começaram conosco já tiveram oportunidades em clubes profissionais de grandes centros, como Vasco (RJ), Cruzeiro (MG) e Vitória (BA)”, conta Luiz Eduardo Machado, formado em educação física e coordenador técnico do projeto.

Ygor Silva Gomes é retrato disso. Hoje com 16 anos, ele é cria da Associação Atenas. Entrou aos sete anos, passou cinco anos no projeto, teve oportunidades de bolsas em outras escolinhas, chamou a atenção do Palmas, time profissional da cidade, jogou partidas da Série D do Brasileirão e agora está no Sub-17 do Vitória (BA).

“Eles fazem um trabalho excelente com a galera, formando jogadores e cidadãos. Foi lá que pude mostrar meu talento, aprendi a respeitar, a me dedicar, e isso abriu portas para outras oportunidades”, relata Ygor, que recentemente voltou às suas raízes para fazer uma palestra para os meninos que estão atualmente no projeto. “Falei para eles nunca desistirem e seguirem batalhando pelos sonhos deles”, conta o fã de Neymar e do Santos, ansioso pela final da Libertadores entre a equipe da Vila Belmiro e o Palmeiras, neste sábado (30.01).

Mérito e necessidade

Para a seleção dos meninos e meninas, dois critérios são aplicados. Metade das vagas é oferecida a meninos e meninas que têm alto desempenho escolar nas instituições públicas de ensino, para valorizar o mérito e o esforço. A outra metade é voltada para crianças e adolescentes que apresentam dificuldades de aprendizado, para garantir o reforço necessário para que possam acompanhar os demais. Durante a pandemia do novo coronavírus, o projeto garantiu cestas básicas para as famílias e kits escolares completos para os alunos.

“Acho que a gente tem influenciado nossos alunos de uma forma bem positiva com a mensagem de que vale a pena ser correto. A gente convive com contextos sociais complicados, de desigualdade, violência familiar, malandragem”

Júlio César Pereira Dias, professor no projeto

Nos cinco núcleos, as atividades são aplicadas de forma padronizada, com metodologia em comum que avalia critérios físicos, psicológicos, psicomotores e emocionais. “É uma forma de ter parâmetros e dar a continuidade necessária a esses atendimentos”, explica Luiz Eduardo.

Além das aulas de reforço organizadas por pedagogos da equipe, palestras e serviços fazem parte do cotidiano e são oferecidas tanto para as crianças quanto para o núcleo familiar, em temas como violência doméstica, saúde mental, abuso sexual, machismo no futebol, nutrição, relação com o meio ambiente e serviços de saúde.

“Em parceria com uma universidade, por exemplo, eles têm avaliação de dentistas e noções de escovação. Quando há casos que exigem, eles recebem atendimento posterior na faculdade de odontologia”, diz Luis Eduardo.

Ideia do projeto é formar campeões nos campos e quadras e na vida. Foto: Divulgação/Inclusão Social Através do Futebol
Projeto visa formar cidadãos que possam exercer todo o seu potencial na sociedade. Foto: Divulgação/Inclusão Social Através do Futebol

Muito além de esporte

Júlio César Pereira Dias é outro com relação de longa data com o projeto. Ele entrou como estagiário enquanto cursava Educação Física em Palmas. Formado, foi efetivado e hoje é um dos professores. Para ele, um dos principais aprendizados que as ações de inclusão social pelo esporte oferecem é que o profissional precisa ser múltiplo. Em variadas ocasiões ele atua não só como professor, mas como psicólogo, conselheiro, amigo.

“Acho que a gente tem influenciado nossos alunos de uma forma bem positiva com a mensagem de que vale a pena ser correto. A gente convive com contextos sociais complicados, de desigualdade, violência familiar, malandragem. Já tive situações de aluno que se atrasou porque estava chamando a polícia porque o pai estava agredindo a mãe”, conta.

“A gente administra um pouco de tudo. Por isso as palestras com profissionais de áreas complementares são importantes. Em um dos núcleos em que havia muitas meninas, detectamos casos de automutilação e de necessidade de acompanhamento psicológico. Fizemos uma parceria com a prefeitura para garantir o atendimento necessário e hoje praticamente não temos casos.”

Lei de Incentivo

A Lei nº 11.438/06, ou Lei de Incentivo ao Esporte (LIE), como é mais conhecida, permite que recursos provenientes de renúncia fiscal sejam aplicados em projetos das diversas manifestações esportivas e paradesportivas. Pelas regras atuais, pessoas físicas podem designar 1% do que pagam em Imposto de Renda e pessoas jurídicas podem indicar até 6% do saldo devedor para aplicar em projetos chancelados pelo Ministério da Cidadania.

Desde 2007, a Lei de Incentivo teve mais de 17,5 mil projetos protocolados, entre os de participação, de rendimento e educacionais. São mais de R$ 2,8 bilhões captados. Atualmente, há 253 projetos em execução no país com chancela do Governo Federal.

Por meio de doações e patrocínios, os projetos executados atendem crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos, além de garantir o suporte necessário para que os atletas de alto rendimento participem e representem o Brasil em competições nacionais e internacionais.

Diretoria de Comunicação – Ministério da Cidadania