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Investimentos, participação e resultados caminham cada vez mais próximos ao alto rendimento feminino

Publicado em: 08/03/2019 08:03 | Atualizado em: 08/03/2019 09:03

Vestir o quimono para treinos e torneios é parte óbvia da rotina da carateca Valéria Kumizaki, vice-campeã mundial da categoria -55kg em 2016. Mas nem sempre o óbvio foi simples. Aos 33 anos, a atleta pertence a uma geração que precisou enfrentar desconfiança e olhos tortos com alguma frequência pelo simples fato de ser uma mulher no mundo dos tatames.

“Até dentro de casa foi difícil. Quando escolhi o caratê, meu pai não gostou. Dizia que era esporte de menino, que eu era magrinha, que iam me quebrar”, recorda a atleta. “Depois, na academia, éramos só duas ou três meninas num universo de dezenas de meninos. O professor incentivava a rotação entre duplas, mas eles odiavam treinar com a gente”, conta. “Isso me motivava. Eu só queria melhorar para ganhar deles. Quando eu levava a melhor, eles ficavam indignados”, brinca.

Valéria Kumizaki fez parte de uma geração que ressignificou o caratê em Presidente Prudente (SP) e no Brasil. Foto: Abelardo Mendes Jr/ Ministério da Cidadania

Valéria Kumizaki fez parte de uma geração que ressignificou o caratê em Presidente Prudente (SP) e no Brasil. Foto: Abelardo Mendes Jr/ Ministério da Cidadania

O pioneirismo e os títulos de Valéria mundo afora mudaram o perfil da academia da atleta em Presidente Prudente (SP). O local passou a ser um polo de referência na formação de caratecas no feminino. “Chegamos a ter 30 meninas para dois meninos. Quando viajávamos para Brasileiros e Regionais, era a ‘Academia de Mulheres'”, afirmou a atleta, integrante da categoria Pódio, a principal do programa Bolsa Atleta, da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania.

 

Campeã dos Jogos Sul-Americanos de Cochabamba, na Bolívia, em 2018, e bronze na etapa da Premier League de Dubai, nos Emirados Árabes, em fevereiro de 2019,Valéria também integra uma geração em que o esporte feminino passou a ser tratado de forma mais igualitária em termos de oportunidade de investimentos, de percepção dos organizadores de megaeventos e, consequentemente, de expressividade de resultados.

“Fico feliz com esse reconhecimento. Hoje já podemos ver mulheres com destaque em modalidades que antigamente só homem participava”, disse a paulista, forte candidata a uma vaga na estreia da modalidade no programa olímpico, agendada para os Jogos de Tóquio, em 2020.

Na competição continental na Bolívia, a delegação nacional viajou com uma jovem equipe de 316 atletas. Eram 160 homens e 156 mulheres. No quadro final de medalhas, contudo, a balança pendeu para o lado feminino. Das 204 medalhas conquistadas pelo Brasil, 106 (52%) ficaram com as mulheres e 88 com os homens (43%), fora as 10 (5%) que vieram de modalidades mistas. Foram 48 ouros femininos e 36 masculinos.

“Esse avanço reflete uma maior participação das mulheres na prática esportiva e a força que elas têm. O ciclo de maior investimento que o Brasil teve com os megaeventos permitiu uma maior entrada de mulheres em todos os esportes e ampliou nosso leque”, afirmou, à época, Marco La Porta, vice-presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e chefe da delegação.

A judoca Alana Maldonado representa a nova 'safra' do judô paralímpico: prata na Rio 2016, ouro no Mundial em Portugal 2018. Foto: Gabriel Heusi/ Ministério da Cidadania

A judoca Alana Maldonado representa a nova ‘safra’ do judô paralímpico: prata na Rio 2016, ouro no Mundial em Portugal 2018. Foto: Gabriel Heusi/ Ministério da Cidadania

Viés de alta

A percepção de Valéria e de La Porta se reflete também nos esportes paralímpicos. Aos 23 anos, a judoca Alana Maldonado é um dos símbolos da nova geração. Medalha de prata nos Jogos Rio 2016, a paulista de Tupã conquistou o título mundial em 2018, em Portugal, na categoria -70kg para atletas com deficiência visual.

“O importante é que quebrou aquela barreira de mulher malhar, ser forte, fazer esporte de contato. Isso fez a gente ir para cima mesmo, mostrar a força que a mulher tem e a capacidade de chegar lá. O judô feminino vem se desenvolvendo muito, e a mulherada está dominando os pódios”, afirmou a atleta, que tem como principais metas o Parapan de Lima, em agosto, e os Jogos de Tóquio, em 2020.

Para o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Mizael Conrado, o desafio à frente transcende tatames. Envolve todas as modalidades na tarefa de ampliar a base de talentos do sexo feminino e ocupar todos os espaços possíveis em torneios internacionais.

“O CPB tem como prioridade a promoção do esporte paralímpico entre as mulheres. Estabelecemos no nosso planejamento estratégico uma meta desafiadora, que é ocupar todas as vagas possíveis em competições internacionais. Além disso, pretendemos avançar com a participação de mulheres nos eventos nacionais, principalmente nos regionais, que são qualificatórios para os nacionais e, consequentemente, nos principais eventos do país”, disse.

Retrato dos investimentos

A qualidade da participação feminina se mede também pela Bolsa Pódio. Voltado especificamente para esportistas próximos ao topo do ranking mundial e com possibilidade de medalha em megaeventos, o programa contemplou 244 bolsas femininas para 136 atletas no ciclo dos Jogos Rio 2016 (85 olímpicas e 51 paralímpicas), num investimento de R$ 34 milhões. Agora, no caminho para Tóquio, são 227 bolsas, para 151 atletas (80 olímpicas e 71 paralímpicas), num investimento de R$ 29 milhões. Ao todo, são 201 atletas, com 471 bolsas, e R$ 64 milhões em recursos. O número de bolsas é maior que o de atletas porque são patrocínios anuais. Assim, no ciclo olímpico, a mesma pessoa pode ser beneficiária mais de uma vez.

Levando em conta as outras categorias da Bolsa Atleta (base, estudantil, internacional, nacional e olímpica/paralímpica), entre 2009 e 2018 foram concedidas 22.254 bolsas federais para mulheres, num investimento total de R$ 327 milhões. Ainda que o número total seja inferior ao concedido para homens no mesmo período (32.359 bolsas e R$ 461 milhões investidos), ele reflete a maior quantidade de competidores masculinos no universo total de atletas no país, e não o número de oportunidades disponíveis.

“Aqui na Secretaria Especial do Esporte, o incentivo é feito em todos os níveis, na área social, no futebol, no alto rendimento, de maneira equânime. Mulheres e homens recebem exatamente o mesmo tipo de incentivo. O que comprova essa política são os resultados, cada vez melhores”, afirmou Marco Aurélio Vieira, secretário especial do Esporte do Ministério da Cidadania. Para ele, a união entre esporte, cultura e desenvolvimento social no novo Ministério da Cidadania amplia o potencial de ganhos: “A intenção é possibilitar às mulheres a plenitude de exercer a sua cidadania, com políticas de igualdade, acessibilidade e sustentabilidade”.

Ana Claudia Felizola, Breno Barros, Gustavo Cunha e Luiz Roberto Magalhães – Ministério da Cidadania

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