Um levantamento feito pelo G1 revela que os 26 prefeitos das capitais nomearam mulheres para 140 dos 509 cargos de chefia nas secretarias municipais (28% do total). Isso significa que as mulheres lideram menos de 3 a cada 10 pastas dos Executivos municipais. Os secretários, que tomaram posse nos últimos dias, foram nomeados pelos prefeitos, com quem devem trabalhar durante a gestão municipal.
Em Natal (RN) e São Luís (MA), os dados não estão completos, já que os prefeitos ainda devem divulgar os nomes de mais secretários municipais.
Gênero dos secretários municipais das 26 capitais: prefeitos nomearam mais mulheres para cargo em 2021 em comparação com 2017; número ainda é baixo — Foto: Anderson Cattai/G1
Os dados coletados pelo G1 mostram que, em 2021, todas as capitais têm ao menos uma mulher como secretária municipal. Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, é a única capital com apenas uma mulher. São 12 secretários no total. Em nota, a Prefeitura de Campo Grande afirma que “a mulher tem papel de destaque na gestão” e que a vice-prefeita, Adriane Lopes, “realiza trabalhos de extrema importância para a comunidade”.
“Também temos mulheres à frente da Secretaria de Educação e da Planurb [Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano], além de três subsecretarias comandadas por mulheres: do Bem-estar animal, da Juventude e dos Direitos da Mulher. Temos ainda em Campo Grande a primeira Casa da Mulher Brasileira”, diz a nota.
Já Recife e Belém registram o maior número de mulheres nos cargos, percentualmente. As mulheres ocupam a metade dos 18 cargos de secretaria do Recife. Em Belém, elas são 17 de 35 (49%). Nenhuma capital tem mais mulheres secretárias do que homens.
Secretários municipais, por gênero, nas 26 capitais: dados de 2017 e 2021 mostram quantas mulheres foram nomeadas para liderar as secretarias — Foto: Anderson Cattai/G1
Embora os dados de 2021 não mostrem a equidade de gênero nas capitais, houve um aumento na representatividade. Em 2017, quando a gestão anterior teve início, 108 dos 494 cargos eram ocupados por mulheres (ou seja, 22%).
De 2017 para 2021, o percentual de mulheres nas secretarias aumentou em 14 das 26 capitais. Em Florianópolis e Maceió, o índice não oscilou. Dez capitais registraram uma queda: Campo Grande (-25 pontos percentuais), São Luís (-23 pp), Natal (-23 pp), João Pessoa (-22 pp), Vitória (-18 pp), Goiânia (9 pp), Rio Branco (-5 pp), Rio de Janeiro (-4 pp), Manaus (-4 pp) e Boa Vista (-2 pp).
Dos 26 prefeitos de capitais, apenas uma é mulher: Cinthia Ribeiro (PSDB), reeleita para comandar a Prefeitura de Palmas (TO). Apesar disso, são 10 mulheres e 22 homens no secretariado. O número de mulheres, porém, já é bem maior do que o registrado em Palmas em 2017: 2 mulheres e 26 homens.
Desconstrução de estereótipos
A professora e coordenadora do Programa Diversidade da FGV Direito Rio, Ligia Fabris, afirma que o aumento no número de mulheres no secretariado municipal deve ser comemorado e já representa um avanço após a luta de movimentos feministas para desconstruir estereótipos.
“As mulheres também são capacitadas, bem formadas, estudadas, podem estar à frente, ou seja, liderando uma secretaria, uma prefeitura. É importante ter em mente essa desconstrução de que, em grande parte da história, o imaginário da competência era uma figura masculina.”
Para a professora, porém, a predominância de homens nas prefeituras facilita a indicação de outros homens para as posições de liderança, já que eles não sofreram discriminação de gênero e parte ainda não tem consciência da desigualdade.
“Ainda é preciso avançar, pressionar, colocar as mulheres à frente das secretarias e, inclusive, prestar atenção porque muitas vezes acontece uma divisão sexual do trabalho político. As mulheres ficam a cargo de secretarias que tenham a ver com cuidado, solidariedade, e não ligadas a recursos, economia. Todos são igualmente capazes de ocupar todos os postos. É uma desconstrução diária e que precisa avançar.”
A cientista política Larissa Peixoto, doutora pela UFMG, reforça que as mulheres não devem ficar limitadas na administração pública.
“É interessante ver não só a quantidade [de mulheres], mas onde essas secretárias mulheres estão alocadas. Eu quero saber o poder que foi dado a elas. E não só se ela existe. Elas foram colocadas na Secretaria da Fazenda? Ou elas estão na Secretaria de Assistência Social, que é um tema que não tem financiamento, em que ninguém tem interesse, que está sempre jogado de lado e é a primeira secretaria a ser eliminada quando estão fazendo cortes no Orçamento?”
“As barreiras para as secretarias municipais são as mesmas que as mulheres em outras posições de liderança enfrentam. Ser chamada para o secretariado municipal, muitas vezes, é uma boa porta de entrada, porque evita os obstáculos da política legislativa, que são maiores para as mulheres. Ao mesmo tempo, a qualificação delas passa a ser questionada, já que não houve uma prova de fogo”, diz a pesquisadora.
“E, de forma geral, essa é a grande dificuldade que muitas de nós, mulheres, enfrentamos todo dia: alguém que julga a habilidade no trabalho pelo gênero, e não pelo mérito. E que não o faria se fosse um homem no lugar. Toda mulher na política é avaliada não só como indivíduo, mas como representante de todas as mulheres e sofre o questionamento de ‘como seria se um homem estivesse aqui?’. A política, na esquerda e na direita, é tão machista quanto qualquer outro local de trabalho.”
Veja quem foi nomeado em cada capital
- Aracaju (SE)
- Belém (PA)
- Belo Horizonte (MG)
- Boa Vista (RR)
- Campo Grande (MS)
- Cuiabá (MT)
- Curitiba (PR)
- Florianópolis (SC)
- Fortaleza (CE)
- Goiânia (GO)
- João Pessoa (PB)
- Macapá (AP)
- Maceió (AL)
- Manaus (AM)
- Natal (RN)
- Palmas (TO)
- Porto Alegre (RS)
- Porto Velho (RO)
- Recife (PE)
- Rio Branco (AC)
- Rio de Janeiro (RJ)
- Salvador (BA)
- São Luís (MA)
- São Paulo (SP)
- Teresina (PI)
- Vitória (ES)
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